Pedagogia Contemplativa: aprender como caminho, não como objetivo

por Cerys Tramontini e Noah Taylor

A abordagem pedagógica do programa de pós-graduação em Transformação de Conflitos e Estudos de Paz com ênfase no Equilíbrio Emocional está enraizada na pedagogia contemplativa, que é uma abordagem profunda e transformativa de educação, se concentrando no cultivo de nossas qualidades construtivas e que honra as experiências vividas por agentes de paz. Traz um olhar humanizado para os processos acadêmicos, levando em consideração nosso ser como um todo, não somente para o intelecto, conforme as abordagens acadêmicas convencionais. Embora “pedagogia contemplativa” seja uma terminologia relativamente nova, os processos de educação por meio da (ou para a) contemplação são antigos. 

A pedagogia contemplativa está enraizada em antigas tradições espirituais através do tempo e em inúmeras culturas diferentes. Ela traz fortemente o equilíbrio entre os componentes intelectuais com outros recursos por meio da prática e experiência, e métodos instrucionais eficazes que cultivam profundidade na aprendizagem” (Brown, 2011). Para Louis Komjathy, professor associado de Religiões Chinesas e Estudos Comparativos Religiosos da Universidade de San Diego, Califórnia, a pedagogia contemplativa é uma abordagem ao ensino que é informada e expressa por meio de diversas formas de práticas contemplativas. Essa abordagem explora a prática contemplativa, as experiências geradas a partir dela e sua aplicação à educação (Komjathy, 2016). Como abordagem pedagógica distinta, a Pedagogia Contemplativa encontra-se na interseção entre tradições contemplativas, ciência moderna e teorias educacionais (Brown, 2011). Richard C. Brown, professor de Educação Contemplativa na Naropa University, localizada em Boulder, Colorado, descreve essa abordagem da pedagogia como uma “síntese da presença consciente”.

Esta abordagem oferece a oportunidade para agentes de paz observarem e investigarem suas mentes, seus estados emocionais, seu corpo, como se relacionam consigo e com o mundo a partir de um espaço seguro de abertura e criatividade. A pedagogia contemplativa nos convida a trazer o foco interno introspectivo como a base para o desenvolvimento da conexão e insight (Barbezat & Bush, 2014).

O objetivo geral desses métodos é o cultivo de formas de consciência e qualidades construtivas de ser e de se relacionar no mundo e fornecer espaço e as ferramentas para a transformação individual. Trata-se de um desvio das abordagens educacionais convencionais encontradas no ensino superior, que enfatiza meramente a perspectiva de pesquisa em “terceira pessoa”, com foco na aquisição de novas informações “dadas” aos alunos por professores especialistas.

A abordagem meramente em terceira pessoa é como a maioria de nós foi educada academicamente. A pedagogia contemplativa inverte essa lógica e traz um novo olhar aos processos acadêmicos, em que eu como ser no mundo me implico em todos os processos os quais se está experienciando. O ponto de partida para a Pedagogia Contemplativa é uma abordagem em “primeira pessoa” para a transformação profunda de cada indivíduo que é, por si, agente de transformação. Esse tipo de abordagem investiga a percepção das experiências subjetivas do indivíduo e como essa percepção pode ser transformada.

A pedagogia contemplativa se concentra na investigação de todos os fenômenos, da investigação da mente e da consciência. A pedagogia contemplativa está presente em toda a jornada do nosso programa. E faz parte do programa que todos os agentes façam todas as práticas contemplativas oferecidas tanto nas fases presenciais quanto online. A efetividade do programa vem do tanto que os agentes se engajam nas práticas contemplativas.

Essa abordagem pedagógica leva os participantes do programa a serem chamados/as de “agentes de paz” e não de “estudantes”. Cada pessoa traz consigo suas biografias, identidades, experiências, emoções, sentimentos, relações e entendimentos de si e de como se relaciona com o mundo. É com esse engajamento com a totalidade do ser, por meio de um processo de práticas intra e interpessoais, que o programa procura acompanhar as participantes enquanto investigam de forma profunda, autêntica e corajosa seu envolvimento com os conflitos e trabalham conjuntamente a construção de uma cultura de paz, começando com cada pessoa. Aqui não há docentes. Somos facilitadores e facilitadoras de processos nos quais agentes e pessoas facilitadoras, são corresponsáveis pelos processos, investigando conjuntamente, de forma aberta, diversos processos. Nesta abordagem horizontal, pessoas facilitadoras do programa não se vêm como “especialistas” ou mesmo “professores ou professoras” e sim como “pessoas facilitadoras de processos”. Teorias e práticas juntas apoiam a jornada transformativa de agentes de paz, que promovem suas transformações no seu tempo e na medida em que puderem ou quiserem. Procura-se respeitar o movimento e as necessidades individuais.

Práticas contemplativas são encontradas nas tradições de sabedoria ao longo do tempo e em diversas culturas. A extensão das práticas contemplativas inclui formas de meditação que cultivam a quietude profunda, visando centrar e acalmar a mente. As práticas contemplativas também podem se concentrar na geração de qualidades específicas da mente, como bondade amorosa e compaixão. Técnicas como mindfulness do corpo, sentimentos, mente e fenômenos podem ser utilizadas. Abordagens orientadas ao movimento, como meditação em movimento, dança, yoga, pintura, Aikido, Tai Chi Chuan e Qigong, também são métodos de florescimento das habilidades contemplativas.

As práticas contemplativas podem despertar a capacidade criativa do indivíduo por meio da música, do canto e da escrita, bem como as habilidades relacionadas ao indivíduo por meio de escuta profunda, de diálogo, de comunicação autêntica e de narração de histórias (The Center for Contemplative Mind in Society, 2000).

Conheça mais sobre a Pedagogia Contemplativa em nosso programa de Pós-graduação e veja nossa programação de Lives em nosso canal do YouTube.